Células cinzentas
E se o assassino for um fã da série? Um assassino serial, literalmente, que deve atacar de novo e deixar o terceiro cadáver em Las Vegas, desta vez.
Né de se duvidar.
Eis o homem de volta! Depois da decepção que foi A Magia de Holy Wood, voltei a me encantar com Terry Pratchett no 11º volume de Discworld, O Senhor da Foice - talvez por trazer de volta meu personagem favorito da série, o Morte, que sempre suscita grandes viagens filosofo-absurdas. "Na aldeia de Ramtop [...] só acreditam que a pessoa finalmente morreu quando a agitação que ela causou no mundo se acaba - quando acaba a corda do relógio em que ela deu corda, quando o vinho que ela fez acaba de fermentar, quando a plantação dela é colhida. A duração da vida de uma pessoa, dizem, é apenas o núcleo da sua verdadeira existência."Nosso mui amado Morte é demitido por se permitir ter personalidade; isso inclui ter curiosidade sobre alguns costumes humanos e desenvolver preferências por palitinhos de queijo e abacaxi, por exemplo, além de se recusar a adotar um cavalo compatível com a sua profissão [geralmente um amontoado de ossos], preferindo o conforto de um cavalo real batizado Pituco.
Se este filme fosse estrelado e/ou dirigido pelo George Clooney seria um thriller político; se fosse estrelado pelo Harrison Ford seria um filme sobre um homem comum politicamente correto que salva o mundo [ou os EUA, no mínimo]. Senquisgóde o ator principal de O Senhor das Armas [Lord of War, EUA/2005] é o Nicolas Cage e assim virou um filme existencial sobre as dúvidas filosóficas dum vendedor [um atravessador, na verdade] de armas, que fornece arsenal para países que o governo americano não pode apoiar publicamente, mas sem lições fáceis de moral.
O livro ficou rolando meses e meses. Da estante pra mesinha de cabeceira de volta pra estante pra debaixo do travesseiro pra mesinha de cabeceira e nada de avançar além da 50ª página. A ironia de Terry Pratchett estava ali, a crítica ferina, o jogo de palavras [meio que esmagado pela tradução, é verdade, mas perceptível], a tonelada de referências... todos os elementos que são a marca registrada do autor, quinem as notas de rodapé. E no entanto A magia de Holy Wood não me cativou.
Quando dei minha opinião [pessoal] sobre o livro Memórias de uma gueixa, de Arthur Golden, alguns questionaram como eu podia indicar a leitura mesmo depois de tudo o que disse. Exatamente por isso! Ninguém deveria se abster de ler/assistir/ouvir algo porque outro não gostou. [Tá, exceto a banda calypso, mas isso já é outra história.] O que eu quis dizer e talvez não tenha me expressado bem é que o livro não reflete a realidade das gueixas e devia ser lido como obra de ficção, como entretenimento. Igual quinem o Código Da Vinci: uma isca para atrair a atenção. Quem quiser ler a verdade busca, pesquisa em outras fontes depois. Aquilo é ficção.