Mudou alguma coisa?

Começou.

Aaaah, Halloween é coisa de americanizado, globalizado, burguesinho, blablablablabla.

Concordo. Vamos acabar com todos os eventos importados dos EUA. Começar do dia das mães, depois dia dos pais, dia do trabalho, dia dos namorados, ano novo, natal - sim, vamos ter apenas tradições genuinamente brasileiras, chega de macaquear as coisas de fora, de qualquer lugar!

Vamos ficar só com o dia do índio. Hein? Brasileiro dizimou todas as nações indígenas? Qual o problema, ficam ótimos em fantasia de carnaval. Ah, sim, vamos acabar com o carnaval também, em New Orleans e em Veneza a tradição é mais antiga e nós temos que combater essa síndrome de colonizados.

E dia da abolição da escravatura, continua? Ninguém liga se a tal da princesa Isabel não libertou ninguém, o importante é que não vamos macaquear nenhuma festividade capitalista. E essa história de que a Isabel foi joguete na mão dos porcos burgueses que perceberam que mão-de-obra imigrante é mais barata que a escrava não passa de intriga da oposição.

Sete de setembro, opa, esse tem que continuar. Afinal foi Dom Pedro que libertou o Brasil do jugo português. A-há, u-hu, o Dom Pedro é nosso! A-há, u-hu, o Dom Pedro é nosso!

Dia de finados não, dia de finados é uma tradição burguesa e também tem que acabar, junto com o Halloween.

Agora, feriado bom mesmo é o quinze de novembro, o dia em que a República foi proclamada no Brasil, cortando o último laço que unia ao burguesismo europeu, nénão? A partir daí o país tomou seu rumo de nação soberana, independente. Esse feriado continua.

Taí, não sei porquê alguns nobres deputados e senadores nunca pensaram nisso. Já que cogitaram em matar a língua, impedindo que incorporasse novos elementos externos, não vejo porque eliminar todas as efemérides importadas daqueles porcos capitalistas...

Advertência: Este post contém ironia.

Publicado originalmente em 31 de outubro de 2003.