quinta-feira, setembro 27, 2007

Da natureza humana

Os dois livros que li mais recentemente de Agatha Christie estão separados por quase 30 anos entre o lançamento de um e de outro e, no entanto, trazem personagens tão parecidos que me fazem pensar que a natureza humana é mesmo imutável e igual, em qualquer parte do mundo.

Treze à mesa traz Hercule Poirot, o Capitão Hastings e o inspetor Japp investigando o assassinato do marido de uma atriz famosa. A maldição do espelho traz Miss Marple e o inspetor Craddock, da Scotland Yard, investigando a morte de uma aldeã na mansão de uma atriz famosa.
Não é o fato de que os dois livros sejam ligados ao mundo do cinema que me fez achar que são parecidos, mas a observação que a autora faz das pessoas, famosos ou anônimos. Ela é especialmente cruel - ou seja, verdadeira - ao retratar um tipo de pessoa tão egocêntrica que a gente acaba por desejar ver morto. Ou pelo menos chutar-lhe o traseiro. Não uma pessoa egoísta, e sim alguém tão cheio de certezas absolutas sobre o que é apropriado pro nosso próprio bem que é absolutamente insuportável.

Esse é um dos motivos que me faz apreciar tanto os livros de titia Agatha: ah, sim, eu gosto de histórias tipo CSI também, mas nos livros dela as provas não contam muito [às vezes chegam a ser desdenhadas, no caso de Poirot]. O que vale ali são as motivações e as reações humanas. Dinheiro, na maior parte das vezes, poder, inveja, ciúme, rancor, comportamento vicioso ou insanidade, até amor. Ora, a natureza humana sendo como é, diria Jane Marple.

Ambos foram adaptados para o cinema [Lord Edgware Dies, de 1934, Thirteen at dinner de 1985 para a tv, The mirror crack'd de 1980 e a versão para a tv, de 1992]. A versão para o cinema d'A maldição do espelho está na pré-venda: é a única que assisti e lembro que na época fiquei bem impressionada com a trama. Foi por causa desse filme que me apaixonei por Elizabeth Taylor e decerto foi Angela Lansbury quem definiu minha preferência por Miss Marple em vez de Poirot.

Outra característica do livros de Agatha Christie é fazer referências, seja a casos resolvidos em livros anteriores e personagens que fazem "crossovers" nessas histórias, seja a costumes e superstições típicos, e parte da graça está em descobri-los ou pesquisar sobre eles. Uma superstição de 'Treze à mesa', por exemplo, também é mencionada em 'Harry Potter e O Prisioneiro de Azkaban' e eu *acho* [do verbo "é puro chute"] que é de origem cristã [de cristianismo, não de christie]: se treze pessoas estão sentadas à mesa, a primeira a se levantar será a primeira a morrer. Isso me leva a imaginar uma mesa cheia de velhinhos com looongas barbas brancas dizendo "primeiro você. não, vai você, eu insisto" até todos morrerem em volta, de puro tédio. De qualquer forma, procurar essas referências faz parte da diversão.

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