domingo, fevereiro 20, 2005

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A senhora era a única filha e neta, criada como a herdeira intocável a quem nada era negado. A senhora adorava seu tio. Era o seu deus. Deve ter sofrido um choque quando ele surgiu com uma noiva. De uma hora para outra ele já não era seu deus-escravo e era preciso puni-lo, por isso o matou. Creio que foi a senhora também quem espalhou os boatos sobre a traição da noiva, que conspurcou seu deus. A senhora desejou sujar o nome dela, não foi? Do mesmo modo que uma criança faria.

Não sei onde ocultou o corpo durante todo esse tempo, mas já não importa. Meu objetivo era a verdade e eu a descobri. Não se preocupe, estes fatos não serão divulgados. Entre nós duas basta saber que EU SEI."

Seis meses após estes fatos, D. Agripina morreu. Os vizinhos dizem que ela dera para desenvolver paranóias: saía de casa várias vezes para ver se não a estavam espionando e numa dessas saídas pisou em falso no degrau da cozinha. Bateu a cabeça no grande vaso cheio de terra seca ao lado porta e teve morte instantânea.

O responsável pelo espólio de D. Agripina, seu advogado e seu contador estavam listando os objetos de maior valor para o leilão organizado para levantar fundos para as despesas do funeral, quando encontraram o cadáver de tio Pedro, já mumificado, no quarto de D. Agripina.

FIM
[O Assassinato Retrospectivo, Luciana Naomi Hikawa, abril/04]