quarta-feira, maio 31, 2006

A ilha

Preconceito faz a gente perder coisas boas. Porque confundi A Ilha com A Praia quase que embarco nessa também: o disco ficou mais de 40 dias encostadinho, até que uma crise braba de insônia exigiu medidas drásticas. O filme começa com o despertar do personagem de Ewan McGregor e é aí que o sono [meu] vai embora de vez: mensagens exibidas no teto e nas paredes do quarto e do banheiro de Lincoln Six Echo me lembram muito a paranóia absolutista de Philip K. Dick. Um ambiente estéril e estritamente controlado, em que todos são iguais e têm todos os seus atos dirigidos em prol do "bem-estar geral comunitário" reforçam a sensação - descubro depois que não é de Dick, afinal, e sim de um rapaz chamado Caspian Tredwell-Owen. O mundo foi contaminado e esta bolha oferece as condições ideais para os sobreviventes: alimentação balanceada de acordo com o exame de urina feito na primeira visita ao banheiro, roupas limpas e iguais para todos, educação idem, trabalho e entretenimento também. Dá pra perceber uma crítica ao socialismo ali, caus que mesmo com esta idéia de sociedade perfeita [e em que todos são *especiais* e *escolhidos*] o maior anseio é ganhar na loteria que permitirá ao vencedor ir para a tal ilha do título, o último refúgio descontaminado ao ar livre.

Outra crítica aparece quando Lincoln passa a questionar o sentido da vida, do Universo e tudo o mais [42], discutindo suas idéias com um técnico de manutenção que vive nas áreas contaminadas [o sempre excelente Steve Buscemi] e com o médico/psicológo/conselheiro [*ui ui, é aí que as coisas começam a ficar interessantes!*] Sean Bean. Ocorre que as coisas não são o que parecem ser no mundo ideal e, assim como na Matrix, a vida vale pelo que pode oferecer. Dá uma boa discussão ética-filosófica nesses tempos de pesquisas sobre a clonagem humana, embora a parte da ação atrapalhe um pouco [bem-filmada, nervosa, ma num é a minha praia, num adianta. canso fácil. a cena da perseguição inda gostei, achei do mesmo nível da perseguição do T3. as outras vi no esquema fast-forward].

Pra quem pretendia dormir, acabei acordada por quase 3 horas: filme mais extras. Valeu a pena, se não por mais nada, pelas interpretações também de Michael Clarke Duncan e Djimon Hounson, no papel de um soldado mercenário. Na verdade, acho que é o primeiro filme desse diretor que assisto inteiro... Viu? Preconceito faz a gente perder coisas legais.

[Ouvindo: Red Hot Chili Peppers - Taste the Pain - Mother's Milk (4:26)]