domingo, maio 28, 2006

500 milhas

A prova mais tradicional dos EUA sempre teve essa característica meio familiar por acontecer no fim-de-semana anterior ao Memorial Day: é um evento nonde as pessoas vão com seus trailers, filhos e churrasqueiras para ver a corrida. A 90ª edição foi familiar também no pit line: nunca vi tantos Juniors numa prova só! Teve* Larry Foyt, filho do tetracampeão das 500 Milhas A. J. Foyt Jr., atualmente dono da equipe Foyt Racing; teve Arie Luyendyk Jr., filho do "Holandês Voador" que também é o dono da equipe niqui o pimpolho corre; teve Tomas Scheckter, filho do campeão de F1 Jody Scheckter; teve Felipe Giaffone, filho do campeão das Mil Milhas de Interlagos Zeca Giaffone; teve Al Unser Jr., filho de outro tetracampeão de Indianápolis - mas esse já não é mais nenhuma criança e ele mesmo venceu a prova por duas vezes. Está aposentado há quase dois anos.

Outra característica que torna essa corrida tão diferente é que qualquer piloto pode disputá-la [desque se classifique com um carro dentro das especificações, óbvio], não apenas os competidores da IRL. É por isso que Unser Jr. e Michael Andretti estavam ali no pit. Michael também *estava* aposentado como piloto, também é filho de outro piloto campeão [Mario Andretti, campeão tanto na antiga Indy como na F1] e foi, ele mesmo, campeão da categoria. Ele é o recordista de voltas lideradas nas 500 milhas; nunca venceu. Mario e Michael dirigem a equipe Andretti Green e têm como pilotos o brasileiro Tony Kanaan, o americano Brian Herta, o escocês Dario Franchitti [Mr. Ashley Judd] e o filho de Michael, neto de Mario, Marco Andretti. O pirralho de 19 anos quase consegue o que o pai não conseguiu em todos esses anos: ele chegou em 2º lugar depois de ser ultrapassado por Sam Hornish Jr. [não-filho de ex-piloto, até onde eu saiba] a 100 metros da linha de chegada. Marco é seriíssimo candidato a Rookie of the year**, IMHO.

E ainda cá entre nós, para vencer nas 500 milhas não basta ter [1] equipamento confiável, [2] equipe afinada, [3] preparo físico e mental, [4] boa estratégia e [5] talento: tem que contar ainda com *muita* sorte. Kanaan, por exemplo, teve os cinco primeiros itens à disposição durante 189 das 200 voltas, porém faltou a tal da sorte quando ele estava em primeiro, longos segundos de vantagem sobre o segundo lugar para fazer um splash & go quando aconteceu aquela bandeira amarela que pôs tudo a perder. Vamos lembrar que ele estava usando o capacete do Barrichello. Não que eu esteja dizendo que uma coisa tem a ver com outra, queisso. Loooonge de mim.

Sorte mesmo teve o Hornish Jr., que largou na pole mas não foi nada parecido com o passeio de Alonso na F1 de manhã: na Indy ele teve que superar um erro no abastecimento quando a mangueira de combustível ficou presa no carro, teve que retornar para completar o tanque e ainda tomar um stop & go como punição dessa trapalhada que o deixou uma volta atrás do líder. A diferença entre Hornish e Marco Andretti foi de uma agulha na linha de chegada - e Andrettinho fez bico e bateu o pé.

Para o próximo GP vou torcer pra Danica Patrick, única piloto mulher e com peito suficiente [sem trocadilhos] pra ultrapassar Michael Andretti, reconhecidamente um hit and run ou o nosso velho Mr. Totó: ele bate nos adversários, tira o carro deles da prova e segue firme e forte feito um touro. Talvez por isso não tenha dado certo na F1, nonde os carros são menos brutos e qualquer toque provoca o desacerto psicológico dos pilotos.

* Sem esquecer os irmãos Buddy e Jacques Lazier, filhos de um piloto que disputou as 500 Milhas duas vezes que esqueci o nome.

** Visto que os outros candidatos não terminaram a prova, acho que na opinião da IRL também [Townsend Bell num erro primaríssimo, PJ Chesson - o primeiro a cair fora, Luyendyk Jr. e Thiago Medeiros].

*** Quanto ao meu favorito, Helio Castroneves, aconteceu algo poético: tinha um ceguinho no meio do caminho, no meio do caminho tinha um ceguinho.