Cinqüenta anos depois
A mãe de Juan Preciado pede-lhe, antes de morrer, que vá procurar seu pai e cobrar dele o abandono em que viveram por toda a vida. O pai, ela diz, mora em uma grande propriedade chamada Media Luna na cidade de Comala, estado de Guadalajara, México. Chegando em Comala deve procurar Eduviges Dyada, que foi a melhor amiga de sua mãe e o ajudará a falar com o pai. O arrieiro Abundio guia Juan Preciado até a casa de Eduviges; no caminho conversam sobre seu pai:
" -- O senhor conhece Pedro Páramo? Como é ele? -- perguntei.
-- Um rancor vivo -- respondeu-me. "
Esta resposta é todo o sentido da novela PEDRO PÁRAMO, de Juan Rulfo: apenas os sentimentos continuam vivos, seja o rancor, a cobiça, o ódio ou o amor, já que os personagens estão mortos. Juan Preciado é conduzido por um espírito a uma cidade fantasma e lá morre também, por puro terror. A partir daí o autor constrói uma trama em que conhecemos a história de cada habitante de Comala e da Media Luna, num estilo que chamam de Realismo Mágico ou Realismo Fantástico. Juan Rulfo escreve de forma seca, econômica, quase sovina. Pedro Páramo é um exercício de concentração: é necessário ler alguns parágrafos antes de descobrir quem está falando e que momento é aquele. O livro foi escrito na primeira pessoa do singular mas sem indicações de qual personagem está com a palavra e há saltos temporais e de espaço. O autor foi comparado a Guimarães Rosa, Julio Cortazar, Jorge Luis Borges, John Dos Passos e Graciliano Ramos, mesmo tendo publicado apenas esta novela e a coletânea de contos O PLANALTO EM CHAMAS, além de alguns artigos sobre o interior do México, onde era agente de imigração do governo. A profissão, aliás, foi o fator determinante para a criação literária de Juan Rulfo. Seus personagens são todos baseados em pessoas simples, camponeses, e as suas viagens pelos vilarejos mexicanos a trabalho permitiam criar o espaço adequado.
"E durante a noite, as casuarinas mugem, uivam. E o vento. Compreendi então a solidão de Comala, esse lugar. O nome não existe, não. Mas a derivação de 'comal' -- um recipiente de barro que se põe sobre as brasas para esquentar as tortillas -- e o calor que sugere é que me deram a idéia do nome. Comala: lugar sobre as brasas."
* Publicado originalmente em 2001 no e-zine 700km e republicado na comemoração dos 50 anos da obra.
" -- O senhor conhece Pedro Páramo? Como é ele? -- perguntei.
-- Um rancor vivo -- respondeu-me. "
Esta resposta é todo o sentido da novela PEDRO PÁRAMO, de Juan Rulfo: apenas os sentimentos continuam vivos, seja o rancor, a cobiça, o ódio ou o amor, já que os personagens estão mortos. Juan Preciado é conduzido por um espírito a uma cidade fantasma e lá morre também, por puro terror. A partir daí o autor constrói uma trama em que conhecemos a história de cada habitante de Comala e da Media Luna, num estilo que chamam de Realismo Mágico ou Realismo Fantástico. Juan Rulfo escreve de forma seca, econômica, quase sovina. Pedro Páramo é um exercício de concentração: é necessário ler alguns parágrafos antes de descobrir quem está falando e que momento é aquele. O livro foi escrito na primeira pessoa do singular mas sem indicações de qual personagem está com a palavra e há saltos temporais e de espaço. O autor foi comparado a Guimarães Rosa, Julio Cortazar, Jorge Luis Borges, John Dos Passos e Graciliano Ramos, mesmo tendo publicado apenas esta novela e a coletânea de contos O PLANALTO EM CHAMAS, além de alguns artigos sobre o interior do México, onde era agente de imigração do governo. A profissão, aliás, foi o fator determinante para a criação literária de Juan Rulfo. Seus personagens são todos baseados em pessoas simples, camponeses, e as suas viagens pelos vilarejos mexicanos a trabalho permitiam criar o espaço adequado.
"E durante a noite, as casuarinas mugem, uivam. E o vento. Compreendi então a solidão de Comala, esse lugar. O nome não existe, não. Mas a derivação de 'comal' -- um recipiente de barro que se põe sobre as brasas para esquentar as tortillas -- e o calor que sugere é que me deram a idéia do nome. Comala: lugar sobre as brasas."
* Publicado originalmente em 2001 no e-zine 700km e republicado na comemoração dos 50 anos da obra.
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