domingo, maio 02, 2004

Lembrancinhas

Abri umas duas caixas, procurando alguma coisa que distraísse minha sobrinha de um ano e meio. Tinha segundas intenções, confesso: queria que ela desistisse de jogar pinball no meu computador. Os dedinhos já não se contentavam em apertar as teclas Z e /, já partiam para Ctrl, Alt, Esc... Mas também, que idéia de jerico mostrar pra menina aquela tela cheia de luz piscando e sons!

Antes de distraí-la, no entanto, quem se esqueceu do computador fui eu mesma - graças a uma caixa cheia de lembrancinha de casamento, aniversário, etc. De onde será que veio esse costume de presentear os convidados da festa de casamento com um mimo, acompanhado do cartãozinho "Lembrança do Enlace Matrimonial de Fulana e Sicrano, 01/01/01"? Será que é medo de quem alguém esqueça a data? Ou uma prova concreta praquela tia que não pôde comparecer [suspiros aliviados] e que pergunta sempre a mesma coisa, "mas casou mesmo?" Já as de nascimento estão todas grudadas na geladeira - duvido que a indústria de ímãs de geladeira sobrevivesse sem os nenenzinhos que vêm ao mundo todos os dias.

O fato é que, com tia ou sem tia, olhando aquelas lembrancinhas percebi que poucas amigas da minha turma se casaram. As que casaram demonstraram um gosto meio... err... démodé na hora de escolher as lembranças - espero que tenham acertado na escolha dos maridos.

Uma delas, casada com um sujeito tão calado que ainda não sei como é a voz dele, optou por dois corações em gesso branco e purpurina prata. Gesso e purpurina, aliás, parece ter sido a combinação preferida das noivas - pelo menos na década passada. Outra peça do mesmo material é um porta-jóia. O noivo, no caso, é um tipo extrovertido, de bom coração, muito boa-praça mesmo. Uma jóia.

Tem um que é sossegado por demais da conta, a ponto de ser dependente. Sempre à espera de que a mulher diga o que fazer. Nesse caso a escolha foi perfeita: uma almofada de cetim e bordas rendadas [que vai ser reciclada e virar almofada de alfinete]. Dois noivos ainda são uma incógnita, não consegui ver relação entre a personalidade de um e a lembrança escolhida: uma vela [?!?!!?] no caso da minha prima e um ímã de geladeira com o formato de dois porquinhos em trajes de casamento no caso de prima alheia.

Um terceiro caso também me intriga, um saquinho de cetim recheado de algodão. No mínimo ele é o oposto do cara cuja noiva escolheu uma rosa feita de prata de lei. Esse casamento, o da rosa, deve durar tanto quanto o do casal que festejou 25 anos juntos e deu de lembrança uma cestinha de prata. Pena que tanto a rosa quanto a cesta sejam do acervo da minha mãe...

Mas em matéria de correspondência perfeita entre lembrancinha e personalidade o primeiro lugar é de um tio: uma miniatura de uma garrafa de cerveja Antarctica fixa em um cinzeiro. Ninguém pode dizer que minha tia casou-se iludida.

* Publicado originalmente em 2001.

[Ouvindo: Offspring - Walla Walla - (2:57)]

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Vc se lembra de balas-de-noiva que trazíamos de um festa de casamento e levávamos dias para consumi-las? E esses mimos que cada família recebia eram exibidos nas cristaleiras da sala, como fossem enfeites.

3 de fevereiro de 2009 às 12:32  

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