Influências da Lua Nova: O Ciclo
Ou: Era Apenas Líquidos e Hormônios

Tem uma aranha no meu quarto. Não a vejo no momento, mas sei que ela existe. Não, não é como naqueles filmes de terror onde os adolescentes em férias no acampamento ou no hotel abandonado pressentem a presença do Mal eu sei que ela está aqui porque estou vendo a renda delicada que ela deixou na parede atrás do computador onde estou tentando interligar palavras soltas de modo que façam algum sentido, neste momento. Não precisa ser nada muito inteligente nem inovador, basta que façam sentido!

Talvez devesse tentar uma sessão de exorcismo [ sai deste corpo que não te pertence! ] , autoflagelo [ na linha sadomasô, com direito a lingerie da Tiazinha ], psicografia [ basta cobrir a escrivaninha com uma toalha branca ], terapia de regressão... Ah, melhor não. De repente descubro que fui Cleópatra na outra encarnação, ou Napoleão Bonaparte, ou Alexandre O Grande! Aí é que a porca torce o rabo: tendo sido um deles, ou todos - miséria pouca é bobagem - como supor que o simples ato de escrever uma pequena crônica fosse um desafio tão grande?

Está ventando. O movimento da teia da aranha provoca sombras na parede e distraem minha atenção. Resisto à vontade de pegar o aspirador de pó e limpar o quarto: são quase duas da manhã! Concentre-se na tela, menina, concentre-se... Pense no que você quer escrever...

Penélope Charmosa passa na minha frente e me distraio de novo. "Charmosa" por conta do desenho animado na verdade o nome da minha nova gata vem da esposa de Ulisses, o herói grego. Duas personagens fortes num meio másculo, a mítica recusando pretendentes numa época em que a mulher não tinha autonomia e a de celulóide pilotando carros de corrida. Sempre acompanhadas de personagens masculinos protetores, claro; os autores eram homens e todo mundo sabe que, afinal, as mulheres não vivem sem os homens e vice-versa. Pelo menos é o que eu espero...

Não preciso mais passar o aspirador na teia da Florbela [bonito nome para uma aranha]. Penélope acaba de arrancar da parede com os bigodes. Método prático, silencioso e econômico... Ah, não! Ela vai se limpar na minha blusa!

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Talvez eu devesse criar peixinhos dourados.