domingo, janeiro 06, 2008

Jane Eyre - série

Ou: Senta que lá vem história.

Foi no final da década de 80 que descobri Jane Eyre, numa sessão da madrugada na TV Cultura. Em preto-e-branco na sala escura, os olhos do Conde Edward Rochester me assombravam e não consegui sossegar enquanto não descobri mais sobre ele. Que era Orson Welles eu sabia, mas a Internet ainda não existia pra essas bandas. Era o tempo, ainda, dos catálogos da Ediouro; foi ali que encontrei o livro de Charlotte Brontë [com essa mesma capa] que viria a ser o meu livro favorito de todos os tempos éva.

Muitos anos depois, assisti outra versão de Jane Eyre, mas não me marcou como a primeira vez. A história depende muito da interpretação dos dois atores principais e [acho que já comentei isso uma ou duas vezes no PdUBT antes] a dupla Charlotte Gainsbourg/John Hurt não me ganhou.

Os planos pra reler o livro no original já estavam feitos no ano passado, quando miguxo me enviou a lista dos concorrentes para o Golden Globe e vi uma atriz concorrendo na categoria de minisséries ou filme feito para a tv na temporada 2006/7 por... Jane Eyre!

Só se ouviu um cataploft.

Graças à Fernanda e à Tati, que me fizeram insistir pela terceira vez no cadastro do IsLife depois de não ter conseguido em duas, encontrei os quatro episódios da minissérie da BBC pra baixar [nunca vou agradecê-las o bastante por isto!].

Assisti neste final-de-semana.

Preparei coração e mente para evitar comparações com a versão de 1944 mas, depois de 15 minutos, não dava pra disfarçar mais: a maioria das seqüências era copiada plano-a-plano! Podia pensar que fosse natural, afinal não dá pra inventar muito quando se trata de adaptar o mesmíssimo livro. Daí vem a cena em que Jane criança encontra-se com Mr. Brocklehurst e a semelhança me deixa sem fôlego, com o enquadramento das personagens idêntico: Mr. Brocklehurst visto de baixo pra cima e Jane, de cima para baixo, tanto no filme quanto na minissérie.

Era a senha pra começar a comparar sem culpa! E, visto que o Jane Eyre de Orson Welles é um dos meus filmes top favoritos, foi até um ponto a favor pra minissérie, uai. [Pequena observação pessoal: eu tenho uma bronca contra atrizes bicudas. Me incomodam, não pergunte o motivo, Calista Flockhart, Elizabeth Mitchell, Claire Forlane... até a Evangeline Lilly mirrita. Quando vi a Ruth Wilson já criei barreira logo de cara. Ou de bico, quem sabe.]

Não gostei das crianças atuais, mais mecânicas e estridentes que as de 44. Tá certo que, em 44, uma delas era *a* Elizabeth Taylor, o que torna a comparação injusta. Também achei estranho terem colocado uma adolescente pra fazer a Adéle; a garotinha de 44 era tão encantadora e... francesa! Na escalação das crianças, 44 venceu 06 pra mim.

Talvez por contar com um elenco mirim tão mais fraco, o arco que mostra a infância de Jane foi menos desenvolvido na minissérie. Eu não sei se isso prejudicou a compreensão do caráter da personagem por parte de quem viu a história pela primeira vez; alguns comentários no site oficial criticaram muito o ritmo acelerado dos dois primeiros episódios, mas a maioria foi feita por quem também já conhecia o livro.

Até a metade do terceiro episódio ia tudo meio paripasso, filme e série, com uma que outra cena adicional e fotografia linda. A minissérie abriu mão da sutileza em duas seqüências que, no filme, foram filmadas de forma a não chocar a audiência da época, usando artifícios muito elegantes e que não deixavam dúvidas sobre o que tinha acontecido. Agora não necessitamos mais tanto prurido; ainda assim achei de uma crueza que destoou do tom.

Da metade do terceiro episódio até uns 3/4 do último não teve comparação: é um arco que foi cortado da adaptação de Aldous Huxley em 44, que transformou o clérigo St. John Rivers [que Jane conheceu pós-Thornfield] no médico Dr. John Rivers de Lowood, a instituição para onde Jane foi encaminhada pela Tia Reed.

Nos últimos 15 ou 20 minutos do quarto episódio, aí sim, foi a redenção. A conclusão da minissérie me derreteu mais que a do filme. A essa altura eu já tinha esquecido o bico da Ruth Wilson e o fato de que Toby Stephens é bonito demais para seu próprio bem ser Mr. Rochester. Acho que o fato desses minutos finais terem sido mais fiéis ao livro ajudou muito, passada a primeira estranheza de não ser narrado em primeira pessoa.

Pra quem gosta de romances de época [especificamente os vitorianos], recomendo a série com entusiasmo. E o livro. E o filme. Quanto à indicação pro Golden Globe, não sei se Ruth Wilson leva o prêmio porque não vi as outras concorrentes nas respectivas séries mas, intimamente, sinto que não haverá outra Jane Eyre tão perfeita quanto Joan Fontaine. Quanto ao Mr. Rochester perfeito, bem... Ainda espero este.
:o)

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9 Comments:

Blogger Diana Pádua said...

Já tá ma lista!! :)
Ah, to lendo As boas mulheres da China... vc ja postou sobre isso, né? Ou to confundindo os blogs? hehehe
bjs

8 de janeiro de 2008 às 01:28  
Anonymous Anônimo said...

Naomi, ganhei de Natal dois livros sobre a turma de lá das bandas do Oriente Médio.
De gente que tem um pézinho lá no Líbano.
O presente mais lindo e especial veio da Rachel, a Cherryzinha da família: um livro com dedicatória e tudo mais, feita por ela mesma. cut cut cut
A danadinha tem sanguinho libanês nas veias, mas, é brasuca de primeira linha.
hehehehehehe
Como ela ganhou um paino elétrico - filha única, primeira bisneta e primeira neta e primeira sobrinha dos dois lados, etc e tal e coisa e loisa...
Lá ficamos nós duas dedilhando musiquinhas ao piano.
Aaaaaaamei este Natal.
O Ano Novo também foi bom.
O clima de festividade e verão ainda continua.
Mas, melhor do que ler qualquer livro, sem rasgação de seda é rolar a barra e ler você, com suas histórias e receitas especiais.
Amo muito tudo isso!
Num é que o Ronald MacDonald's tem razão?!
Só que no caso se aplica diretamente a Batata Transgênica, claro!
Obrigada pelas dicas, querida flor paulista oriental!
Sinceramente, com afeto, de coração, e toda feliz!
Felizes dias para todos nós.

Ah! Fiz uma refeição à bordo de um navio chinês. Ameeeeeei. Comida típica. Uma tigela de arroz, que comi parcimoniosamente. Uma tigela com um caldo de algas, que devorei. Um prato com legumes que mais parecia mandioquinha acompanhado de frango refogado. Pedi uma colher. O próprio comandante veio providenciar, afinal, eu era uma convidada! Me fartei e embora satisfeita, me senti leve. Achei o jeito dos chineses comerem muito peculiar... Diferente mesmo. Agradeci aos filmes asiáticos tudo que já pude ver da cultura daquelas bandas!

Acho que foi o desfecho mais lindo que já pude me lembrar de um final de ano hospitaleiro e cordial.
Simplicidade foi a palavra chave.

Eita tagarelice, sô!

Gostou das bolsas, fofura linda?
As do e-mail!
rsrsrsrsrsrs

8 de janeiro de 2008 às 22:08  
Blogger naomi . said...

diana, já sim! 'as boas mulheres da china' é um livro ótimo...

cassia, frô, que delícia de natal! mas me diz o título dos livros, se você tá gostando da leitura, etc., plis?

das bolsas fiquei dividida quinem vc, hehehe...

9 de janeiro de 2008 às 12:43  
Blogger Unknown said...

Oi..

Sabia da existência das outras irmãs Brontë, mas só havia lido "O Morro dos Ventos uivantes", da Emily. Foi o livro da minha vida, li na adolescência e fiquei 'meio estranha' (rs rs) por vários dias. Acredito que ainda esteja assim.

Fizeram um filme fantástico deste livro, de 1939, com Sir Lawrence Olivier...

Mas, enfim, assisti a mini-série, nem lembro como a encontrei... terminei de assistir agora e sai a busca de alguém que também tivesse assistido. Enfim, adorei.. Vou agora fazer a leitura do livro. Achei que das Brontë somente a Emily tivesse a capacidade de apresentar tamanha força e paixão, vi que estava errada... Charllote criou uma Jane Eyre impressionante.

Bom... é isso... acho que escrevi demais, empolguei rs rs .

10 de janeiro de 2008 às 05:44  
Blogger Unknown said...

Ah... esqueci de falar, sou meio "bicuda" tb.. Não tanto quanto a Ruth Wilson, mas achei melhor avisar, já que até a ruiva de Lost está na tua lista :)

abs..

10 de janeiro de 2008 às 05:47  
Blogger naomi . said...

ana, oi! tentei acessar seu blog pelo link mas deu erro... você pode mandar pelo corpo do comentário ou pro emeio lunaomi@gmail.com, plis?

ói, além do morro e de jane eyre, também li 'agnes grey' da terceira irmã, a anne - que achei o mais fraquinho dos 3, mas ei lá se não é alguma coisa na tradução, né?

por falar em tradução, se vc for ler em português tente achar uma versão que não seja do sodré vianna, que é meio petulante. *deve* ter alguma tradução menos empolada!!
:oD

quanto ao bico, não se preocupe: é coisa com personagem só!

10 de janeiro de 2008 às 13:10  
Blogger Yara Kono said...

Não assisti a versão cinematográfica de 44, mas o teu texto suscitou-me o interesse... :) Vi recentemente minisérie da BBC e fiquei encantada. x

1 de outubro de 2008 às 07:01  
Blogger Unknown said...

Ola,

Meu nome é Maria, e eu comecei a ver esta mini serie "Jane Eyre" que deu recentemente na RT2 mas infelizmente nao consegui ver até ao fim, fiquei bastante interessada e achei uma excelente historia, pois ja li o livro, mas gostava de ver por completo.
Gostaria de saber se por ventura alquen tem esta mini serie gravada ou se e onde posso adquirir esta historia em DVD.
Fico a espera de resposta

Maria Santos

10 de outubro de 2008 às 13:00  
Blogger cbio said...

Nossa vi a série e amei. fiquei com medo de estragar o filme, mas as semelhaças foram superadas. Emocionei com o final que é mais lindo que o filme... + demorado rsrsrsr Só achei que a Adele do filme era mais engraçadinha do que na série.

Mas valeu por esse post. que não conhece nada sobre Jane Eyre, recomendo que é maravilhoso, tanto o filme, a série ou o livro.

3 de janeiro de 2009 às 14:44  

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