segunda-feira, agosto 28, 2006

Nishime

Quando era pequena [digo, criança] e inda era possível reunir a família pelo menos uma vez por ano era um pouco difícil conciliar o paladar da família Kimura com o das tias gaijins, duas mineiras acostumadas com o tempero rico de sal e gordura e uma gaúcha descendente de judeus, com o tempero de sal e ervas. Os pratos adocicados da cozinha japonesa demoraram para ser assimilados [e peixe cru nem pensar, até hoje]. Arroz grudento era a morte. O jeito foi apelar pro nishimê móde ninguém morrer de fome; pensando melhor hoje em dia, ajudava também para evitar que a gente morresse de congestão. Era comida demais.

O nishime é um prato feito com legumes cozidos, servido principalmente no koohaku [ano novo], que leva a fama de ser um depurador para quem comeu muita carne e carboidrato; um fortificante para quem está anêmico ou desnutrido; um calmante para pessoas nervosas; um estimulante para pessoas deprimidas, além de aquecer o corpo nos dias frios. Pra mim, aquece também a alma, por causa da carga de lembranças que traz.

Como em quase toda receita, os ingredientes desse prato são substituíveis e intercambiáveis. A gente usa o que tem à mão na geladeira: raiz de lótus, konhaku, imo [inhame], ninjin [cenoura], kombu reidratado, repolho, ague [tofu frito], shiitake ou shimeji [cogumelos], daikon [nabo], gobô [raiz de bardana], tikuwa ou kamaboko... O segredo é o tempero, um shiro [caldo] de shoyu, água e mirin [saquê doce] e o fato de que, depois dos vegetais serem colocados na panela e cobertos com o shiro, a gente não mexe mais neles até o caldo evaporar. Bom, barato e fácil de fazer.