quarta-feira, outubro 12, 2005

Nasça Sempre Com as Manhãs

A semana é, de diversas formas, dedicada às crianças. O feriado caindo bem no meio é meio sem graça para os adultos. Mas para os pequenos tudo é festa.

Sim, tem o apelo comercial, dos brinquedos, das compras, da gastança. Mas faz parte. Tem muita brincadeira também.

Me lembro dos tempos de escola, jardim da infância ou primeira série, por exemplo. Numa das maiores salas do colégio, grande mesmo, enorme, juntavam as duas turmas de primeira série da escola - naquele tempo, só existiam duas.

As professoras, dias antes, se revezavam em "faltar": eu morava e estudava em Nilópolis, cidade vizinha ao Rio, e cada professora escolhia um dia para "descer", como dizia meu saudoso avô. Descer era deixar a turma abandonada (era essa a sensação que nós, pequeninos, tínhamos, pois não sabíamos na época o motivo) e ir para o Rio, mais especificamente ao centro da cidade, onde havia uma enorme diversidade de pequenos objetos baratos para encher o saco das crianças - e encher o saco aí não tem nada de pejorativo. Cada aluno ganhava, na festa do Dia das Crianças, um saco com revistinhas, lápis, pequenos brinquedos, réguas diferentes, muita coisa.

Como muitos, tenho poucas lembranças desse tempo, da época em que tinha 5, 6 anos. Mas me lembro bem da sala. As carteiras eram colocadas coladas à parede, formando um enorme buraco no meio da sala onde os mais tímidos, como eu, nem ousavam pisar. Havia música numa vitrolinha improvisada, brincadeiras de todo tipo. Uma festa.

Bons tempos.

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Eu já estava quase no segundo grau quando passou ET no cinema. Tinha já 13 anos, terminando a oitava série, mas ainda era um menino - hoje em dia, meninos de 13 anos são, digamos, "espertos". Eu era ainda bem tímido e ingênuo, e "ET, o Extraterrestre" certamente me pegou em cheio.

Não me lembro bem o que senti ao assistir ao filme. Eu já gostava de cinema, mas tenho certeza de que ET foi um marco de transição entre os chamados filmes infantis ou infanto-juvenis que eu assistia até então e o cinema adulto. E me mostrou o que bem sei até hoje e cada vez mais: entrar na sala escura é uma experiência sempre única, ímpar. Estar nela sempre me tornará mais humano. E ao sair dela, certamente estarei diferente de como entrei.

Não vejo o filme há pelo menos 10 anos. Hoje a visão certamente é outra. Mas filmes como ET possuem uma magia que ultrapassará as gerações. Ainda bem.



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A cada dia 12 de outubro, eu queria mesmo era fazer um pedido. Pode parecer meio clichê, mas queria que cada adulto, pelo menos nesse dia, conseguisse sentir novamente sensações de sua infância, de pureza e afeto que não mais o atingem nesse cotidiano agitado de meu-deus.

E a cada ano percebo, felizmente, que há pessoas que, mesmo cheias de responsabilidades, talentos e preocupações, ainda mantém em seu espírito o menino de antes.

Queria ser um deles.
Abençoados sejam.

Nunca Pare de Sonhar
(Gonzaguinha)

Ontem um menino que brincava me falou
Que hoje é semente do amanhã
Para não ter medo
Que esse tempo vai passar
Não se desespere
Nem pare de sonhar

Nunca se entregue
Nasça sempre com as manhãs
Deixe a luz do sol brilhar
No céu do seu olhar

Fé na vida
Fé no homem
Fé no que virá
Nós podemos tudo
Nós podemos mais
Vamos lá fazer o que será !