segunda-feira, maio 02, 2005

Belga, não francês

[Uma nova modalidade de corrente bloguífera acidental que se iniciou num poste da Luci, seguiu noutro poste do Cláudio e passa pelaqui. Assunto: Hercule Poirot. Tentei ao máximo evitar spoilers.]

Esse ano resolvi me dar de presente os DVDs de dois filmes com quase tudo em comum: ambos baseados em livros da escritora inglesa Agatha Christie, com um elenco fabuloso, situados em países exóticos [para o cidadão médio britânico] em ambientes claustrofóbicos e em que todos os personagens têm a motivação e a oportunidade de cometer o crime. Mesmo as vítimas são muito parecidas no que têm de pior - o que leva aos motivos de cada crime. Os dois filmes também têm em comum a fidelidade do roteiro com os respectivos livros, a gente não pode negar.

São as diferenças que vou comentar daqui pra baixo. Livro por livro, Assassinato no Orient Express dá de dez em Morte no Nilo, na minha opinião. Já os filmes invertem os papéis, por causa especialmente de seus atores principais.

O Hercule Poirot de Albert Finney no Assassinato... é histérico. Lembra mais um Capitão Hastings no corpo de Poirot: fala alto, fala muito. Parece que as idéias passam pelas células cinzentas en passant direto para a boca. O filme todo é estridente, aliás. Para mim, toda a tensão é gerada muito mais pela irritação do canal auditivo do que pelo suspense da fita.

O Hercule Poirot de Peter Ustinov em Morte... só peca por não apresentar o physique du rôle de Finney: os bigodes e cabelos de Ustinov são grisalhos em vez de negros, e ele é mais retangular do que oval. Mas a interpretação faz a gente esquecer esse pequeno detalhe em menos de 10 minutos. Esse Poirot é perfeito: ele pensa. Tem um lado caricato quando se enerva porque as pessoas confundem a sua nacionalidade:

-- Maldito abelhudo francês! -- reclama um dos suspeitos.
-- Belga, madame. Abelhudo belga! -- responde.

O Poirot de Ustinov nos leva passo a passo com seu raciocínio lógico; o Poirot de Finney parece tropeçar nas provas por um feliz acaso. Em outras palavras, se você tiver verba apenas para um dos livros, fique com Assassinato no Orient Express. Se a verba der para apenas um dos DVDs, fique com Morte no Nilo - além de tudo, neste filme tem bundalelê.

De resto, o elenco de ambos os filmes faz a gente babar [Lauren Bacall, Ingrid Bergman, Sean Connery, Vanessa Redgrave, Jacqueline Bisset, Richard Widmark, Anthony Perkins no "Assassinato..."; Jane Birkin, David Niven, Bette Davis, Angela Lansbury, Mia Farrow, George Kennedy, Olivia Hussey, Maggie Smith em "Morte..."]. Uma curiosidade para os fãs é a presença de Angela Lansbury no papel da escritora Salome Otterbourne: dois anos depois ela interpretou outra personagem agathachristiana, Miss Marple, no filme A Maldição do Espelho - que também tinha um elenco de matar de inveja. A propósito, porque será que não se fazem mais filmes estelares baseados em AC como na década de 70? Só porque foi na época que a escritora faleceu?

* As opinões emitidas neste espaço são de responsabilidade exclusiva da autora e não constituem nenhum juízo de valor. É sempre bom lembrar.

1 Comments:

Blogger Roberta said...

Adorei o texto... li os 2, não assisti nenhum.

Gostei da sua dica.



Até mais.

5 de dezembro de 2008 às 20:57  

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