domingo, outubro 10, 2004

Belas Maldições

Há muito tempo eu andava de olho nesse livro. De autoria de Neil Gaiman [Sandman, Coraline, 1602] e de Terry Pratchett [universo Discworld], é imperdível pra quem gosta de literatura pop.

Os autores [ingleses] contam a sua versão particular do Apocalipse que, como todo bom Apocalipse que se preza, começa pelo começo: a Gênese. É, a bíblica. É lá que conhecemos Aziraphale, o Anjo que empresta sua espada flamejante para o casal expulso do Éden porque ia chover e ele ficou com dó do frio que ambos passariam. Seu colega Crowley é um Anjo que caiu - ou melhor, rastejou lentamente para baixo depois de tentar a raça humana com o conhecimento do Bem e do Mal.

Onze anos atrás Crowley trouxe ao mundo [a um hospital mantido pela ordem religiosa das Irmãs Faladeiras, na verdade] o Anticristo, para cumprir o plano inefável do fim do mundo. Ele e Aziraphale estão a serviço de suas respectivas Turmas para cumprir o Plano, mas o problema é que nenhum dos dois realmente deseja o fim da raça humana e agora vão ter que trabalhar juntos para evitar que isso aconteça.

O livro todo é uma aventura em ritmo de corrida contra o tempo - afinal, o fim do mundo acontecerá no próximo sábado, às duas da tarde, e os Quatro Motoqueiros do Apocalipse já estão a caminho: Morte, Guerra, Fome e Poluição [Peste se aposentou no século passado, quando a penicilina foi descoberta]. Também é uma crítica ácida à sociedade humana - a pior maldade que Crowley consegue imaginar é provocar uma pane na central telefônica de Londres por 45 minutos. Segundo ele, isso povocará uma onda de mau humor que fará as pessoas cometerem pequenos maus-tratos que se espalharão milhares de vezes.

Eu não consegui parar de ler até a última página; apesar das referências serem mais engraçadas e fáceis de captar para quem já leu a bíblia ou tem pelo menos algumas noções de religião, a história vale a pena mesmo pra quem não conhece a Gênese ou o Apocalipse.

E é claro que os elementos típicos de Terry Pratchett estão presentes no livro: as notas de rodapé irônicas, *o* Morte que FALA COMO SE LAJES DE CHUMBO CAÍSSEM NO CHÃO DAS TREVAS, o humor das coisas banais. Além do mais, como resistir à advertência explícita na folha bibliográfica [aquela que contém o índice para catalogação]?

"Crianças: não tentem provocar o Armageddom em casa."

Belas Maldições: As Belas e Precisas Profecias de Agnes Nutter, Bruxa
Neil Gaiman & Terry Pratchett
Ed. Bertrand Brasil
374 pág.
1ª edição, 2003

Sugestão: Ler ao som do Queen; especificamente:
[Queen - Bohemian Rhapsody - (6:01)]