quinta-feira, maio 27, 2004

A Ratoeira

O primeiro "livro de gente grande" que me lembro de ter lido foi 'Os Três Ratos Cegos' [The Three Blind Mice], de Agatha Christie -- na verdade uma novela escrita para o rádio e não um romance -- que compartilhava com mais dois contos um volume-brinde de Seleções do Readers Digest que meu avô ganhou numa renovação de assinatura. Muitos anos mais tarde esse livro sumiu da estante junto com a coleção completa de Malba Tahan, o que me fez planejar uma peregrinação por casas de parentes em busca dos livros perdidos.

Agatha Christie, a Dama ou a Rainha do Crime, escrevia sobre lugares e pessoas que conhecia. Três Ratos apresenta uma época e um lugar específicos: uma pequena comunidade rural inglesa pós-Segunda Guerra. Tendo a Inglaterra perdido a guerra, seus habitantes passaram pelas mesmas dificuldades e necessidades de alemães e japoneses. A manteiga era artigo de luxo e só podia ser obtida por contrabando, roupas eram trocadas por cupons de racionamento de comida ou combustível. As crianças inglesas conviviam com outras crianças de toda a Europa e Ásia, refugiadas de guerra.

Nesta novela, Agatha esboça alguns princípios desenvolvidos n'O Caso dos Dez Negrinhos, ambos adaptados para o teatro. O Caso dos Dez Negrinhos tornou-se o livro mais famoso, ao lado de Assassinato no Expresso do Oriente, porém Três Ratos Cegos deu origem à peça recordista de longevidade no mundo inteiro: A Ratoeira [The Mousetrap], em cartaz no teatro St. Martin, em Londres, desde 25 de novembro de 1952.

Os direitos para o cinema foram comprados em 1956. O produtor comprometeu-se, por contrato, a só iniciar as filmagens seis meses após o encerramento da peça em Londres. Enquanto isso não acontece, o jeito é ler o livro e tentar adivinhar quem é o assassino.

Agora vou ler a peça em si - numa edição que junta A Ratoeira, Os Dez Indiozinhos [= Negrinhos], Encontro com a Morte e O Refúgio [trad. de Barbara Heliodora].

[Ouvindo: Various Artists - Solomon Burke - Cry To Me - (2:31)]