domingo, julho 04, 2004

Tsurururu...

No Japão é costume comemorar o Ano Novo com várias "simpatias": comendo bolinhos de arroz, mergulhando pelado em águas geladas, etc. Uma tradição mais inofensiva [porém não menos trabalhosa] pode ser feita também depois do Ano Novo, em qualquer época e para qualquer finalidade. Trata-se do origami de tsuru, ave sagrada que vive mil anos e que alguns chamam grou, outros cegonha, outros, ainda, juriti e que tem o poder de conceder desejos. A crença nos poderes do tsuru é tão grande que os adolescentes japoneses fazem mil dobraduras para passar no vestibular.

O Monumento da Paz das Crianças, no Parque da Paz em Hiroshima, nasceu graças ao tsuru: uma das crianças afetadas pelos efeitos da bomba atômica, Sadako Sassaki [1945-1955] dobrou 964 tsurus pedindo pela Paz Mundial. Seus amigos completaram com mais 36, a tempo para o enterro de Sadako. A idéia se espalhou e todos os estudantes das escolas do Japão e de outros nove países conseguiram juntar fundos para a construção do monumento [inaugurado em 05/05/58]. Todos os anos, no dia seis de agosto [Dia da Paz], o Monumento recebe milheiros de tsurus de papel vindos do mundo inteiro -- no ano passado uma escola de línguas em Novo Hamburgo/RS enviou mil dobraduras em verde e amarelo para Hiroshima.

Dobrar um tsuru é bem simples [veja diagrama aqui]. A cada tsuru dobrado repete-se o pedido; depois de ter mil origamis prontos prende-se um ao outro com barbante numa espécie de móbile. Além de vestibular e cura de doenças, o tsuru também é usado em ocasiões festivas [casamentos, nascimentos, datas cívicas, etc] já que simboliza saúde, prosperidade e longevidade.

Publicado originalmente no 700km e republicado na Revista Pompéia n. 4 de junho/04 - Especial Imigração Japonesa.