quinta-feira, setembro 11, 2003

A luz que alumia

Eu não gostava de morar em casa com poste na frente. Até hoje não gosto, de qualquer forma, mas aí compraram essa aqui e o poste bem no meião e aí não teve outro jeito que aprender a des-desgostar.

Nem é tanto por causa do barulhinho que faz o transformador à noite [é transformador aquele trem que fica em cima do poste, né?] e que me lembra tanto tanto uma historinha do Tio Patinhas que ele era dono de uma mina lá na África, acho, e descobriu uma pedra que brilhava e alumiava tudo e colocou a tal da pedra num poste e ninguém mais dormia e ele esfregava as mãos de contente porque se não dormiam podiam produzir mais mas em vez de produzir mais ficaram assim catatônicos, meio zumbizados.

Nem é porque qualquer chuvinha a gente já se apavora que aquilo pode estourar e cair o cabo no chão e valha-me salve o Miguelito, tira tudo da tomada! Num sei não se o seguro da casa num ficou mais caro pra cobertura de danos elétricos por causa desse poste aí na frente...

Nem é porque quando a lâmpada queima não dá coragem nem de pôr o pé pra fora, ainda mais quando é inverno, lua nova, tá escuro feito a alma e dez metros pra cima da rua tem um batalhão da PM aguardando um julgamente de algum preso perigoso.

O maior problema do poste é que não dá pra plantar árvore na calçada. Tá, daria pra árvore baixinha mas de anã basta eu. Eu gosto de flamboyant - suja que é uma desgraça, mas uma vez por ano não tem pra ninguém de tão linda que fica. E quando tá bem florida as florzinhas espirram uma cola que se pega na lente dos óculos não sai mais e a vagem explode a semente longe e você fica lá calculando distâncias imaginárias no crepúsculo sentada no degrau da varanda.