terça-feira, agosto 05, 2003

Pompéia -> Pesque-Pague Cury

Em primeiro lugar, o leitor precisa saber *onde* fica Pompéia -- tarefa muito fácil se tiver um Guia Quatro Rodas ao alcance da mão. Encontre São Paulo, o estado [dica: tente "Região Sudeste"]. Agora aponte o dedo indicador direito sobre São Paulo, a cidade, se for destro. Se for canhoto use o dedo direito também; se usar o esquerdo vai fazer sombra sobre o lado do mapa em que vai olhar. Com o mesmo dedo, trace uma linha imaginária em direção ao Oeste [Go West, já diziam os Pet Shop Boys] -- lembrando que o Oeste fica à esquerda. Passe por Campinas ou Sorocaba, Botucatu, Bauru e Marília: isso é muito divertido, parece aqueles livrinhos para criança, Ligue os Pontos, não parece?

Depois de Marília trace mais uns dois ou três centímetros imaginários e pronto! O leitor acaba de chegar à pacífica, progressista e altaneira(*) Cidade-Coração. Cuidado com o quebra-mola. Não se engane com o tamanho e o número de habitantes [dezoito mil]. Procurando bem, há muito o que fazer e visitar na cidade. Uma alternativa saudável, natural e barata é o Pesque-Pague Cury na estrada vicinal Pompéia-Vila Audênia, antiga granja do avô desta colunista que vos digita, no Bairro Futuro -- o que mais uma vez confirma a crença dos caçadores de ouro norte-americanos de que o Futuro está no Oeste. As galinhas foram trocadas pelos peixes, um claro sinal dos tempos modernos em que a proteína da carne branca substituiu o colesterol da gema do ovo. Os sapos continuam os mesmos.

Se o visitante não tiver toda aquela tralha indispensável à prática do esporte e que, apropriadamente, tem o nome de tralha de pesca, pode alugar no local aquele negócio comprido e fino com uma linha na ponta e uma bolinha de farinha pendurada; como chama mesmo? Ah, vara de pescar! Daí é só colocar a bolinha de farinha na água de um dos lagos e esperar um peixe qualquer abanar a barbatana de felicidade, sem imaginar o destino quente e fumegante que o espera. Pobrezinho... Como existe gente cruel neste mundo.

Quer pescar mesmo assim? Bem, diz meu pai que "cada um é cada um", então boa sorte. Opa: nenhum peixe foi bobo de morder o seu anzol? Deve ser a lua: você sabe, caro leitor, existem fases da lua em que os peixes sentem mais fome e traçam até aquela massa de farinha cozida sem gosto que chamam de isca. Ou minhoca -- o que é pior ainda. Qualquer almanaque de farmácia traz um calendário com os melhores dias para dar uma de Brad Pitt em "Nada é para sempre". Hoje não é um bom dia? Não tem problema, o pessoal gente-fina de lá sempre tem um pacu ou umas tilápias frescas na geladeira. Ninguém precisa saber que você não o pescou.

Quer menos trabalho ainda? Sim, concordo que limpar peixe não é muito divertido. E não tem recipiente pra levar o bichinho pra casa também? Mas que puxa... Acho que o jeito é pedir uma porção de peixe frito no bar do pesque-pague, acompanhado pelo som ambiente e pelo limãozinho [que é de lei], talvez uma cerveja ou uma batida. Uma só, para dar conta de subir a serra na volta. Todas aquelas curvas, você sabe: vai que fica enjoado e... Ah, deixa pra lá.

Recomendação da colunista: faça este programa em dias de sol, de preferência dois ou três dias após a última chuva -- a não ser que tenha um jipe com tração nas quatro rodas. Na próxima edição: Enduro da Lama em Pompéia.

* Sabia que não consta "altaneira" no Michaelis eletrônico?