domingo, junho 22, 2003

Porque ontem passou o filme na Grobo.

textoO Psicopata Americano [American Psycho]
de Bret Easton Ellis
Ed. Rocco

Lançado em 91, o livro cobre um ano da vida de um yuppie da década de 80, um executivo que divide seu tempo entre Manhattan e Wall Street, e pode ser lido de três modos:

3] literatura de aeroporto, que se lê numa sala de espera do dentista, por exemplo, sem compromisso.

2] um guia prático da moda dos anos 80 do ponto de vista yuppie. Patrick Bateman, o personagem principal, é considerado a Bíblia da moda em seu meio, uma espécie de GQ ambulante [revista estilo Capricho para jovens executivos: ensina quais são as marcas 'in' e quais os nós de gravata mais apropriados para cada ocasião]. Bret Easton Ellis gasta a maior parte das 485 páginas descrevendo como e o quê seus personagens vestem, o que comem, os lugares onde vão e o tipo de mulher com quem mantém relações. Donald Trump é o ícone a ser imitado e Ivana Trump, sua sex symbol. Três capítulos inteiros são dedicados à música [Huey Lewis and The News, Whitney Houston e Genesis] e vários outros parágrafos a Mike and The Mechanics, Talking Heads, Les Miserables, U2 [atenção para a parte em que Bateman tem um delírio no show do U2 e acredita que Bono Vox pode ver dentro dele].

1] um thriller com fortes doses de erotismo e escatologia. Narrado em primeira pessoa, Pat Bateman dá voz a pensamentos quase nunca agradáveis. Com 26 anos, milionário, bonito, vive num ambiente em que todos são iguais [é comum, no livro, personagens confundirem-se uns com os outros e trocarem os nomes] e o uso de drogas tão freqüente quanto sessões de bronzeamento artificial.

Após a segunda leitura, porém, a dúvida que surge é: Patrick Bateman realmente cometeu aqueles assassinatos? De sua boca saem palavras como: "Você parece que não entende. Não está entendendo nada. Eu o matei. Fui eu, Carnes. Eu cortei fora a maldita cabeça de Owen. Eu torturei dezenas de garotas. Tudo aquilo que eu disse na sua secretária é verdade." e ninguém lhe dá crédito.

O Psicopata Americano foi transformado em filme no ano 2000, com direção de Mary Harron [de 'I Shot Andy Warhol'] e atuações de Christian Bale [O Império do Sol], Willem Dafoe [A Última Tentação de Cristo], Jared Leto [O Clube da Luta], Reese Witherspoon [Cruel Intentions]; trilha sonora de Cure, David Bowie, Rakim, Eric B. e John Cale [ex-Velvet Underground].

Ao contrário do que possa parecer, a referência mais óbvia não é Bud Fox [Charlie Sheen] em 'Wall Street' e sim Buffalo Bill [Ted Levine], o assassino de 'O Silêncio dos Inocentes': "[...] acima de uma das portas cobertas pelo drapeado de veludo vermelho no Harry's há uma tabuleta e na tabuleta em letras que combinam com a cor do drapeado estão as palavras: ESTA NÃO É A SAÍDA."

1 Comments:

Blogger Erico Baymma said...

Naomi, muito legal a sua descrição do filme/livro Psicopata Americano. Achei um thriller bem bacana, bem construído e com atuação memorável do Christian Bale (me surpreendeu).
Mas, estamos falando do seu texto: muito legal, bem criativo e ótima referência para esta obra.
Tentarei ser mais frequente por aqui...rs...
Beijo pra vc

4 de agosto de 2008 às 14:16  

Postar um comentário

<< Home