terça-feira, junho 03, 2003

Experiências Oníricas Esdrúxulas - Parte 1

Eram os Sapos Astronautas?

Eu tenho um sonho. Não sou Martin Luther King, mas também sonho. E este em especial é um daqueles recorrentes, que se repetem umas várias vezes na vida. Era noite e estava dormindo -- o que deve ser verdade porque realmente eu sonho quando durmo e durmo quando é noite.

Como ia dizendo, era noite e estava dormindo na casa do meu avô, na granja. Do outro lado da parede o lago das carpas -- não, meu avô não era rico e não, também não era dono de pesque-pague. Devia ser tradição, quase toda casa de imigrante japonês tinha nem que fosse uma bacia d’água com peixes no jardim. Acordei sem saber o motivo; na cama ao lado meu irmão pergunta: - O que foi isso?

Saímos escondidos, os três filhos da mãe: nós dois e minha irmã caçula que naquela época era pequena o suficiente para dormir no berço. Como a primeira vez que sonhei isso foi aos nove anos, toda vez que ele volta continuo com a mesma idade. Talvez se ele voltar quando eu já tiver uns sessenta anos então no sonho tenha trinta. As pessoas envelhecem nos sonhos? Os sonhos envelhecem? Passamos pela árvore-canil: cinco cachorros enormes que cuidavam das galinhas durante a noite e ficavam presos debaixo da árvore durante o dia. Os cinco dormindo.

Continuamos subindo a colina até as últimas granjas, as de gaiola. Eram dois tipos de granja ou galinheiro, o aberto onde as bichinhas ficavam soltas em paz e harmonia com seus galos, e as de gaiola, onde ficavam as brabas, as ciumentas. A companhia delas eram só as corujas e gambás e ratos do mato. Estas eram as que tinham a melhor vista: um pasto bem grande e a serra ao fundo, com a mata verde-escuro. Pena que não sabiam apreciar.

Era noite, sim, mas era esquisito porque estava muito claro. Uma claridade de luz de padaria ou novela das oito, meio azulada, como se um Sol frio tivesse baixado por ali. E tinha baixado mesmo, no meio do pasto, um disparate de grande de um disco voador. [Que foi? Eu te disse que era sonho!] E nós três ali no meio das galinhas, atrás de uns pés de urtiga armados com uma espingarda de chumbinho que não machucava nem tatu. Se fosse filme este seria o momento em que a câmera faz um corte rápido e tudo fica meio nebuloso; hoje sei que esse lapso de tempo em que não lembramos de nada seria o intervalo entre a abdução, os exames físicos, a viagem pelo espaço no OVNI e a volta ao ponto de partida.

Extraterrestres são cuidadosos e não querem que as pessoas não-abduzidas saibam das suas saidinhas, então eles nos devolveram direto no nosso quarto. São cuidadosos mas são distraídos e passam por dentro da lagoa das carpas e o som que resulta disso parece com o som das botas dos soldados em filme norte-americano quando atravessam um rio vietnamita com as espingardas que não são de chumbinho por cima da cabeça. Sempre acordava nesta parte; respiração acalmada, ouvia os sapos pulando na água -- o barulho deve ter entrado no sonho e minha mente roteirizou o resto, pensava. Pensava -- até comentar este sonho com meu irmão na semana passada e ele responder que também sonhou o mesmo sonho muitas vezes.

Replay.