sexta-feira, maio 09, 2003

Carnawal, referência a Lord Carnavon, o famoso cientista que foi vítima da maldição de Tout-Ank-Amon, que era contemporâneo de Hergé, o criador de Tin-tinA Verdadeira História Por Trás Da Descoberta Do Túmulo Do Faraó Tutâncamon
Ou: Lord Carnaval, O Herói Desconhecido


Em 1922 uma expedição inglesa fez o que seria considerada durante anos a maior descoberta arqueológica do mundo: o túmulo do faraó egípcio Tutâncamon e sua [dele] múmia, perfeitamente preservada, um tesouro de valor inestimável escondido sob um casebre no Vale dos Reis (Luxor, Egito).

Tutâncamon, cujo nome significa “todo aquele que vem”, faleceu em 1352 a.C. aos 19 anos. Sua história é um mistério: nenhum egiptólogo descobriu, por exemplo, quem foi seu pai, qual o seu programa de governo, se morreu ou foi morto. Não sabem nem se era de linhagem real e no entanto é a múmia mais estudada pelos pesquisadores desde então.

Sua descoberta deveu-se à teimosia de Howard Carter, que provavelmente foi o sujeito mais insistente da História da Arqueologia Moderna. Carter persistiu durante mais de seis anos nas escavações em busca da tumba de um faraó que ninguém conhecia, que os próprios registros reais negavam a existência e sobre o qual pairava um silêncio hostil. A teimosia de Carter convenceu seu patrocinador, Lord George Robert Carnavon, um duque inglês com muito dinheiro e tempo de sobra, a acompanhá-lo na expedição.

O que a História não registrou, no entanto, foi a presença de um terceiro inglês no grupo, também um nobre: Lord Carnaval, terceiro barão de Such-A-Ass. Lord Carnaval possuía a mesma tenacidade, disponibilidade de fundos e de tempo de seu colega Lord Carnavon. Ele diferia de seus companheiros apenas em um detalhe: sua absoluta falta de inteligência. Ou, em outras palavras, Lord Carnaval apresentava fortes tendências genéticas ao desenvolvimento de um par extra de patas.

Lord Carnaval foi o único a não penetrar na recém-descoberta tumba de Tutâncamon em 1922 porque se distraiu nos corredores ao seguir as indicações hieroglíficas que apresentavam figuras semelhantes às letras W e C e acabou caindo no que fôra a latrina de milhares de operários egípcios cerca de 900 anos antes. Por sorte a obra encontrava-se solidificada.

Ah, sim, outro detalhe que Lord Carnaval tinha de diferente em relação aos seus colegas de expedição era sua grande sorte. Foi devido a esta sorte que Carter e Carnavon o convidaram para fazer parte da equipe: foi a mesma sorte que o levou a tropeçar nos degraus ocultos que levavam à tumba de Tutâncamon enquanto corria para dentro do casebre abandonado em busca de privacidade para aliviar sua dor de barriga.

As gerações posteriores devem toda a descoberta da tumba a Lord Carnaval, esta figura injustiçada com o pior dos castigos contemporâneos, o desprezo da mídia: lord Carnaval nunca teve seu nome mencionado na National Geographic, não ganhou plaquinha de bronze no Louvre, não teve sua estátua de cera exposta no Museu de Madame Tussaud. Na verdade Madame Tussaud nem ao menos lhe fez uma estátua de cera.

Lord Carnaval, porém, nunca fez questão de vir a público apresentar-se o verdadeiro herói da malfadada expedição de Howard Carter por sentir-se culpado: como foi o único a não acessar a câmara mortuária foi também o único a escapar da Maldição do Faraó. Ele acompanhou, mês a mês, um a um, seus companheiros morrerem misteriosamente frente a seus olhos. Lord Carnaval recolheu-se em sua mansão na Inglaterra e viveu enclausurado por toda a velhice, cercado de móveis com cantos arredondados e sem tapetes no chão. Tais cuidados, é claro, evitaram mais acidentes – e, infelizmente, que novas descobertas arqueológicas importantes fossem feitas.

Notas: Esta é uma obra de ficção. Certos fatos são verídicos, outros não. Para descobrir quais são verídicos consulte o Sagrado Oráculo. Nenhuma múmia foi ferida, maltratada ou sacrificada durante a produção desta obra.